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Alimentos orgânicos: por que priorizá-los na nossa mesa?


foto: Ikon/Pixabay

Diante da onda de autorizações do uso de novos agrotóxicos e da falta de fiscalização sobre o uso correto, optar por alimentos orgânicos é questão de sobrevivência

Por Ciléia Pontes*


Uns meses atrás, eu estava mostrando para uma amiga um creme para pele orgânico que havia acabado de comprar. Ela achou bacana, mas me disse que não acreditava que era orgânico ou que os alimentos orgânicos vendidos no Brasil eram mesmo produzidos sem agrotóxicos. Nem todo mundo sabe, mas é preciso dizer que para receber o selo de orgânico, um produto passa por um processo de avaliação bem rigoroso. É preciso várias certificações. Por isso, naquela marca colocada em produtos orgânicos eu confio de olhos fechados.


Os produtores de alimentos orgânicos passam por muitas dificuldades até conseguirem vender um alimento realmente saudável e que não afeta a saúde nem deles, nem a nossa e, muito menos, do meio ambiente (ar, solo e cursos d´água). As exigências são muitas e o processo é demorado.


Na outra ponta, quem atua na chamada agricultura convencional, está mais tranquilo. Quem usa agrotóxico não precisa comprovar que o utilizou da forma adequada e não precisa demonstrar que o alimento que está vendendo não oferece riscos à saúde dos consumidores, por exemplo. É por isso que andar pela área de frutas, legumes e verduras de um supermercado ou “verdureira” – nome dado ao local que vende esses alimentos aqui em Joinville (SC) – tem sido motivo de apreensão.


Eu e marido costumamos visitar esses locais quando não encontramos tudo o que precisamos na feira de alimentos orgânicos, onde vamos praticamente todo sábado. Assim como muitas pessoas, temos medo de consumir o que não é comprovadamente orgânico, e ficamos em uma encruzilhada: precisamos daqueles nutrientes, mas como saber se a dose de agrotóxico colocada naquela laranja, manga ou brócolis não vai nos causar problemas de saúde ou se durante a produção já não deixou um lastro de contaminação no meio ambiente?


Os motivos da preocupação com os agrotóxicos

Quem estiver minimamente prestando atenção no que vem acontecendo no campo nos últimos anos, tem motivos para ficar preocupado. Já somos líderes mundiais no consumo de agrotóxico e, como se não bastasse essa má fama, recentemente o governo brasileiro autorizou o uso de mais substâncias químicas na agricultura.


Um dos “defensivos” aprovados é o sulfoxaflor. Por ele é perigoso? Além de ser altamente tóxico para humanos, ele mata abelhas. Logo elas, que são as responsáveis pela polinização nos campos. Sem elas, morremos de fome. Por ser tão nocivo, esse agrotóxico de nome difícil já chegou a ser proibido nos Estados Unidos, país que como o nosso, também não está lá muito preocupado com o veneno que está sendo colocado na comida do seu povo.

Além de contaminarem diretamente os alimentos, os agrotóxicos afetam rios, o solo e o ar. E sim, não péssimos também para os animais, como as imprescindíveis abelhas. Na nossa saúde, há estudos que indicam a maior probabilidade de causarem diversas doenças, como câncer, problemas no fígado, pele, cérebro, alergias, doenças respiratórias e várias outras. Se você tem dúvidas, dê uma olhada no dossiê organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abraco). No documento, há um panorama completo sobre o uso dos agrotóxicos no país e a descrição de evidências científicas que demonstram ser real a ligação entre o contato com essas substâncias e o surgimento de doenças graves. Para acessar o dossiê completo, clique aqui.

Importante lembrar que não somos apenas nós, os consumidores, que corremos risco de adoecer ao ingerir alimentos contaminados pelo uso desordenado de agrotóxicos. Os primeiros a terem contato com essas sustâncias, os agricultores, também sofrem. Em 2016, oncologistas gaúchos alertaram para o aumento de câncer em agricultores locais. Poucas dúvidas haviam de que a causa da contaminação dos agricultores daquele estado eram os agrotóxicos. Saiba mais aqui.


Sempre que for possível, prefira consumir alimentos orgânicos


Por conta de tudo isso e mais muita coisa que não é possível colocar aqui por conta de tempo e espaço, é que precisamos priorizar o consumo de alimentos orgânicos, defender a agricultura sustentável e não aceitar calados a produção de comida com veneno.


Sei que o acesso a esses alimentos não é possível a todos os brasileiros e que a produção ainda não consegue atender a demanda, mas me pergunto por que não investir esforços no aumento dessa produção, em vez de tanto esforço para aprovar e utilizar produtos tão ruins para nossa saúde, a saúde de quem produz e do meio ambiente?


Há quem diga que sem os agrotóxicos, a produção de alimentos ficaria inviável, o mundo passaria fome. Em casa, temos uma horta de nada, um espaço pequeno mesmo, e não conseguimos consumir nem metade do que é produzido. Doamos pros vizinhos. Não usamos nada de veneno. Imagine em áreas grandes? Ok, vão dizer que é mais difícil de controlar pragas e tal. Mas então como tem gente que consegue ótimas produções de alimentos orgânicos? Um exemplo é a Fazenda da Toca, em São Paulo, que já produz em larga escala.

E por que não dividir melhor a terra e ter mais gente plantando, invertendo a lógica de muita terra para pouca gente, e, mais ainda, nos desapegando das monoculturas para investir em multiculturas? E o melhor de tudo: por que não todo mundo produzindo no modelo agroflorestal? É por saber dessas possibilidades que não me conformo de não poder comer o que gostaria por medo de ser envenenada. Mas uma hora o jogo vira. Vamos torcer.

*Jornalista, “ecochata” e fundadora da Majuí – Comunicação para a Sustentabilidade

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